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PODER E MEDO - -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
De nada me valeria o pulsar desta vitória se o traço horizontal brincasse com os eixos, a cruz não nasceria
da terra e vão seria o tempo dispensado em regá-la. Bolas de aço derreteriam nos moldes enfileirados
pelo chão em estrume estéril. Restaria a fumaça exalando o odor fúnebre da fé . Todo o pó se queimaria
inutilizando a força dos grãos . Restaria o cisco nos olhos da vida. Que seria infinita , pois demasiadamente
injusta a posse deste troféu. Tão pouco lavaria minhas mãos e o rosto com o líquido das glândulas ainda
que seja impuro. O braço que erguera o símbolo de poder , era o mesmo galho ensombreando e afagando as forças
imortais do medo. Agora desnudando os nervos e as veias carregadas de veneno contra os males da inveja.
A cura da própria doença. No cume dos raios de luz , a sombra dos corpos na cauda negra do vento ,
o esvoaçar dos cabelos em pânico. Acima das auras multicores , a multidão refletida no ouro fundido, a
ganância enlouquecida e cada delírio convulsivo tremia o coro de cordas famintas . A garganta seca dançando
na chuva. De que me valeria esta ascensão doída sem a angústia sofrida ? Aquele pão mofado que o estômago
recebeu com alegria. Aquela água fétida repousando tranquila nas paredes dos rins . Nada que me fora concedido,
foi ignorado: O beijo da meretriz O fígado do bêbado A esmola do mendigo O choro das virgens imaculadas
e alienadas As mãos do meu assassino A mesma lâmina que cortara a visão arrogante , esculpiu o tablado onde
os vencedores estouram a champanhe. E o líquido escorre atrás da sede mendigante dos que almejam ao trono.
Os cacos como espelhos para sua falsa beleza. Os amantes das coroas e anéis carregam o peso da alma
em chumbo maciço. O pensamento ôco sorrindo e enrolando-se no tapete vermelho do salão. Já dormem
as fileiras estáticas sobre os escudos carcomidos entre os ratos do porão. Cada mão segurando a espada cravada
nas costas do rei... E o trono está vazio . Além das muralhas da corte , a fome caminha em passos largos .
Lágrimas empossavam nos sulcos deixados por seus pés malévolos, pisoteando os ossos fracos dos escravos
e enterrando as palavras verdadeiras e ocultas . Afastemo-nos deste altar... Neste troféu o medo saciou sua
sede . 25/12/86
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PARA MAIS UMA MULHER - ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Mais que a dor do rompimento É perder o que ainda não se teve É se atrever a possuir aquilo Que não se dá
Do mais vermelho rosto Negro e longe donativo . Não existe a corrente entrelaçada Nos braços de cupido
. E o tempo , esse maldito , Não a prendeu a tempo No abismo , o guerreiro caído Lava-se com os escarros
Da mulher que salvara a pouco . E ela canta e dança e sorri Ri ... Vomita gargalhadas , perante O
infortúnio do herói vencido . O mesmo que destruira o dragão , Vê-se destronado pela estultícia da paixão. A
mesma língua que arriscou Eu Sou , Anda claudicante pela força do Eu Preciso Eu Temo , Eu Não Sei , Eu Não Tenho
. arranhar as paredes do abismo , gritar até que se doam os dentes chorar até que os olhos reclamem da
inutilidade do ato ou , por fim , esperar irado que venha um novo rosto à entrada do abismo ... Que
despido de todas as cerimônias : beijos , abraços , carinhos , gemidos , olhares languidos , palavras doces , (esses
precursores de amarras ) apenas ofereça a mão como apoio para a ascensão do guerreiro caído. Aquele que conheceu
o abismo da solidão , Cauteloso é perante a mão da mulher .
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